sábado, 3 de julho de 2010

Ted Kennedy e os políticos brasileiros

Para alguns especialistas em ciência política, a democracia, mesmo tendo como uma de suas principais características a participação de todos os cidadãos, necessita da ação de grandes homens para o seu aprofundamento e desenvolvimento.
Dito isso, a morte de Ted Kennedy, senador da maior democracia moderna: os Estados Unidos, obriga-nos (pelo menos àqueles que reconhecem a relevância da política na vida do ser humano) a refletir sobre a importância de lideranças políticas e seu papel no aprofundamento e desenvolvimento da democracia.
Membro de uma dinastia política mundialmente conhecida, Edward Kennedy foi eleito para o Senado pelo Partido Democrata em 1962, ocupando a vaga do seu irmão, o então presidente John Kennedy.
Com o assassinato de John e Robert Kennedy, Ted logo se transformou no principal representante da dinastia Kennedy. Defensor ferrenho de políticas liberais como a implantação de um sistema gratuito de saúde (nos EUA o sistema de saúde se assemelha aos nossos planos particulares) e a melhoria da qualidade de ensino nas escolas públicas (programa “nenhuma criança deverá ficar para trás”), passa a ser conhecido publicamente como o “leão do Senado”.
Mesmo envolvendo-se, na esfera privada, em atos controversos – quase sempre relacionados a mulheres, destacou-se por uma carreira política invejável. Noventa e nove por cento dos senadores, mesmo antes de sua morte, diziam que ele era o mais eficiente dos legisladores, sabia o que falava, tinha o melhor staff, transitava entre republicanos e democratas.
Uma de suas últimas ações louváveis foi o posicionamento público contra a invasão das tropas estadunidenses no Iraque. Não por acaso, mais de 25 mil pessoas lhe prestaram homenagem comparecendo ao seu funeral e a missa de despedida contou com a presença de quase 2 mil pessoas, entre elas os ex-presidentes Jimmy Carter, Bill Clinton, George W. Bush e o presidente Barack Obama. Ou seja, Ted Kennedy era querido por muitos e teve uma vida política respeitada.
A democracia no Brasil é um fenômeno recente que, para muitos, não atingiu a maturidade, isto é, não se consolidou plenamente. Para isso, segundo alguns estudiosos, a ação de lideranças políticas seria de bom grado.
Sendo assim, tentei buscar na memória figuras públicas do atual cenário político brasileiro que se assemelhassem à grandeza de Ted Kennedy. Por uma questão lógica, lembrei de imediato dos nossos senadores. No entanto, o momento que o Senado Federal vive não contribui para tal reflexão. Ampliei o foco, porém, não veio na mente nenhum político de grande envergadura que pudesse ser comparado com o “leão do Senado”.
Depois de muito consultar os meus botões, lembrei-me de uma cena que presenciei quando era criança: meu pai e meus tios chorando a morte de Tancredo Neves.
Guardadas as devidas proporções, talvez Tancredo Neves e Ulysses Guimarães (outro político que se destacou no processo de redemocratização) possam ser vistos como lideranças que contribuíram para o desenvolvimento de nossa democracia. Entretanto, essas lideranças já não estão entre nós há anos.
Como não encontrei no atual cenário político brasileiro exemplos de homens com uma vida pública como a de Ted Kennedy, fica a seguinte pergunta: é possível o aprofundamento e consolidação da nossa jovem democracia diante desse vazio de grandes figuras políticas?

Rogério de Souza. Professor e sociólogo. Doutorando em sociologia pela Unicamp.
Publicado no jornal “O Democrata” da cidade de São Roque em 18 de Setembro de 2009, p. B10.

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