quarta-feira, 17 de novembro de 2010

UNESP: 1ª Fase

A primeira fase da prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias da Unesp (realizada pela Vunesp) não foi difícil. Seguindo certa tradição dos vestibulares para ingresso na referida Universidade, mesclou questões de conhecimentos gerais com algumas questões mais específicas.
A única baixa foi na parte de Filosofia: não cobrou o conhecimento em si desenvolvido no Ensino Médio, desembocando para a interpretação de textos jornalísticos e de filósofos.
A impressão que fica é que a disciplina de Filosofia não encontrou o seu lugar nos vestibulares. Uma pena!

55) A felicidade, para você, pode ser uma vida casta; para outro, pode ser um casamento monogâmico; para outro ainda, pode ser uma orgia promíscua. Há os que querem simplicidade e os que preferem o luxo. Em matéria de felicidade, os governos podem oferecer as melhores condições possíveis para que cada indivíduo persiga seu projeto. Mas o melhor governo é o que não prefere nenhuma das diferentes felicidades que seus sujeitos procuram. Não é coisa simples. Nosso governo oferece uma isenção fiscal às igrejas, as quais, certamente, são cruciais na procura da felicidade de muitos. Mas as escolas de dança de salão ou os clubes sadomasoquistas também são significativos na busca da felicidade de vários cidadãos. Será que um governo deve favorecer a ideia de felicidade compartilhada pela maioria? Considere: os governos totalitários (laicos ou religiosos) sempre “sabem” qual é a felicidade “certa” para seus sujeitos. Juram que querem o bem dos cidadãos e garantem a felicidade como um direito social – claro, é a mesma felicidade para todos. É isso que você quer?
(Contardo Calligaris. Folha de S.Paulo, 10.06.2010. Adaptado.)

Sobre esse texto, é correto afirmar que:

(A) Ao discorrer sobre a felicidade, o autor elege como foco a autonomia do indivíduo.
(B) A felicidade é assunto público e por isso pode e deve ser orientada por critérios objetivos definidos pelo Estado.
(C) O critério moral e religioso é o mais adequado para reger o comportamento dos indivíduos.
(D) O bem-estar e a felicidade pessoal não devem ser assuntos restritos ao livre arbítrio individual.
(E) Para o autor, a busca da felicidade não deve se subordinar ao relativismo das escolhas.

56) A inclinação para o ocultismo é um sintoma da regressão da consciência. A tendência velada da sociedade para o desastre faz de tolas suas vítimas com falsas revelações e fenômenos alucinatórios. O ocultismo é a metafísica dos parvos. Procurando no além o que perderam, as pessoas dão de encontro apenas com sua própria nulidade.
(Theodor Adorno, filósofo alemão, 1947. Adaptado.)

Ilumine seus caminhos e encontre a paz espiritual com Dona Márcia, espírita conceituada com fortes poderes. Corta mau-olhado, inveja, demandas, feitiçaria. Desfaz amarrações, faz simpatia para o amor, saúde, negócios, empregos, impotência e filhos problemáticos. Seja qual for o seu problema, em uma consulta, ela lhe dará orientação espiritual para resolver o seu problema.
(Panfleto distribuído nas ruas do centro de uma cidade brasileira.)

Assinale a alternativa correta.

(A) Os dois textos evidenciam que, em nossa sociedade, prevalece o apelo racional na resolução de problemas pessoais.
(B) O texto do filósofo Adorno aborda o ocultismo sob uma perspectiva crítica.
(C) De acordo com o filósofo Adorno, a espiritualidade permite a elevação da consciência.
(D) Nos dois textos predomina a irracionalidade na abordagem da relação entre mundo material e mundo espiritual.
(E) Os dois textos enfatizam a importância da espiritualidade na vida das pessoas.

57) Renata, 11, combinava com uma amiga viajar em julho para a Disney. Questionada pela mãe, que não sabia de excursão nenhuma, a menina pegou uma pasta com preços do pacote turístico e uma foto com os dizeres: “Se eu não for para a Disney vou ser um pateta”. A agência de turismo e a escola afirmam que não pretendiam constranger ninguém e que a placa do Pateta era apenas uma brincadeira. Para um promotor da área do consumidor, o caso ilustra bem os abusos na publicidade infantil. “Já temos problemas sérios de bullying nas escolas. Essa empresa está criando uma situação propícia para isso”.
(Folha de S.Paulo, 20.04.2010. Adaptado.)

Acerca dessa notícia, podemos afirmar que:

(A) Em nossa sociedade, os campos da publicidade e da pedagogia são esferas separadas, não suscitando questões de natureza ética.
(B) Para o promotor citado na reportagem, o caso em questão provoca problemas de natureza exclusivamente jurídica.
(C) Uma das questões éticas envolvidas diz respeito à exposição precoce das crianças à manipulação do desejo, exercida pela publicidade.
(D) O público-alvo dessa campanha publicitária constitui-se de indivíduos dotados de consciência autônoma.
(E) Para o promotor citado na reportagem, o caso em questão não apresenta repercussões de natureza psicológica.

58) Coisas que este livro fará por você: facilitar-lhe-á fazer amigos rápida e facilmente; aumentará sua popularidade; ajuda-lo-á a conquistar pessoas para seu modo de pensar; aumentará sua influência, seu prestígio, sua habilidade em obter a realização das coisas; facilitar-lhe-á conseguir novos clientes, novos fregueses; aumentará suas rendas; torna-lo-á um melhor vendedor, um melhor diretor; ajudá-lo-á a resolver reclamações, evitar discussões e manter seus contatos humanos agradáveis e suaves; torna-lo-á um melhor orador, um conversador mais atraente; tornará os princípios de psicologia fáceis para que você os aplique nos seus contatos diários.
(Dale Carnegie. Como fazer amigos e influenciar pessoas, 1936.)

Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que não se usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.
(Fernando Pessoa. Livro do desassossego, 1931.)

Sobre os dois textos, é correto afirmar:

(A) A obra de Dale Carnegie transmite nítida visão instrumental acerca das relações humanas.
(B) Os dois textos transmitem uma visão cética sobre a importância da psicologia para o desenvolvimento humano.
(C) Embora escritos na década de 30 do século passado, ambos os textos podem ser considerados precursores do estilo atualmente conhecido como autoajuda.
(D) O texto de Fernando Pessoa transmite uma visão edificante acerca das relações humanas.
(E) Os dois textos valorizam a importância da inteligência emocional nas relações humanas.

59) A criação de índices de sustentabilidade nas principais bolsas de valores do mundo reflete a valorização das companhias verdes. Quando o mercado de capitais, centro financiador do desenvolvimento econômico, cria um índice, dá um recado explícito às empresas que ele procura. Nesse caso, o mercado deixa claro que a agenda socioambiental não pode ser ignorada pelas empresas que ele procura. Na Bolsa de Valores de São Paulo, o índice de sustentabilidade (ISE), criado há cinco anos, mostra resultados melhores do que o índice tradicional. No ano passado, as ações medidas pelo índice Ibovespa subiram 18,5%, enquanto as medidas pelo ISE da Bovespa aumentaram 24,7%.
(Veja, 09.06.2010. Adaptado.)

Assinale a alternativa correta.

(A) A reportagem citada tem como assunto a recusa, por parte dos investidores do mercado de capitais, da lógica neoliberal que atualmente rege a economia capitalista.
(B) A questão ambiental é assunto restrito à esfera política, não podendo ser regida pelos critérios da lei da oferta e da procura.
(C) Os dados citados na reportagem reforçam a tese originalmente marxista acerca da lógica autodestrutiva da economia capitalista.
(D) A reportagem trata da incompatibilidade entre equilíbrio ambiental e a célebre “mão invisível” do mercado, postulada pelo filósofo Adam Smith.
(E) A reportagem divulga a tese de que um problema originalmente ético pode ser resolvido pela lógica do mercado capitalista.

60)

Texto 1

No ano de 1990, o filósofo francês Gilles Deleuze criou o conceito de “sociedade do controle” para explicar a configuração totalitária das sociedades atuais. Na sociedade de controle as pessoas têm a ilusão de desfrutarem de maior autonomia, pois podem, por exemplo, acessar contas correntes e fazer compras pela Internet. Mas, por outro lado, seus comportamentos e hábitos de consumo podem ser conhecidos pelo governo, pelos bancos e grandes empresas. Sem suspeitarem disso, os indivíduos podem ser controlados à distância, como se cada um fosse dotado de uma “coleira eletrônica”.

Texto 2

Um quarto dos alemães aceitam implantar chip no corpo Pesquisa feita pela Associação Alemã das Empresas de Informação, Telecomunicação e Novas Mídias (Bitkom) revela
que 23% dos moradores do país topam ter um microchip inserido no próprio corpo, contanto que isso traga benefícios concretos a eles. O levantamento, realizado com cerca de mil pessoas de várias cidades, foi divulgado na feira de tecnologia Cebit, que vai até o próximo sábado (7), em Hannover.
(Folha Online, 03.03.2010.)

Com base no conceito de sociedade do controle e na notícia reproduzida, assinale a alternativa correta.

(A) Não há correspondência entre os resultados da pesquisa relatada na notícia e o conceito de sociedade do controle, uma vez que a implantação do chip contaria com a permissão das próprias pessoas.
(B) Os resultados da pesquisa atestam a inadequação do conceito proposto pelo filósofo francês para reflexões sobre as sociedades atuais, pois o conceito está defasado vinte anos em relação à notícia sobre a pesquisa.
(C) Os resultados da pesquisa atestam o grau em que os parâmetros da sociedade de controle foram internalizados pelos indivíduos.
(D) De acordo com o filósofo francês, os acessos informatizados garantem o aumento da autonomia dos indivíduos.
(E) O conceito de sociedade de controle tem sua aplicação restrita a sociedades governadas por ditaduras, não podendo ser aplicado a reflexões sobre sociedades democráticas.

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