quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Revolução e Ironia

Após a Queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, a justificativa para a invasão e/ou ocupação de países deixou de ser o alinhamento aos sistemas capitalista ou socialista. A defesa da democracia tornou-se, principalmente entre os países capitalistas, a principal bandeira para explicar tal ingerência. Dessa forma, alegando falta de regime político que contemple a participação efetiva da população, os países do Ocidente, liderados pelos EUA, invadiram, nos últimos vinte anos, diversas nações, entre elas: Iraque (por duas vezes), Sérvia e Afeganistão.
A ironia de tudo isso está no fato de que, muitos países governados há anos por ditadores, são apoiados e recebem ajuda financeira dos EUA e parte da Europa. Os conflitos das últimas semanas nos países árabes escancaram essa contradição. O presidente/ditador da Tunísia Zine El Abidine Ben Ali estava no poder a 23 anos. Ben Ali foi deposto em 14 de janeiro após onda de intensos protestos, exigindo mudanças no regime e maior participação política da população, ou seja, uma revolução. No entanto, os paladinos da democracia - nas palavras de Georg W. Bush “um direito de todos os povos” - desta vez não se manifestaram. Ao contrário, a Casa Branca mantém-se num silêncio de cemitério com comentários ocasionais e vazios.
Especialistas em política internacional afirmam que as relações entre os países são, nos dias de hoje, determinadas pela realpolitik, e que isso justificaria o posicionamento e comportamento pragmáticos das principais potências mundiais. Mesmo discordando, aceito o argumento. Porém, não tolero o blá blá blá das grandes potências em se autodeclararem defensores de valores democráticos e diante de revoltas legítimas por participação democrática, esses mesmos países se calarem e apresentarem afirmações esvaziadas e covardes.
Os episódios no Egito, uma tentativa de revolução, simbolizam ainda mais a incoerência dos supostos donos do mundo, pois, estes apóiam Hosni Mubarack, um ditador que está no poder a quase 30 anos e só permanece ou permaneceu (até a conclusão deste artigo) devido aos dólares e armamentos dos países ricos, com destaque para os EUA e Israel.
Portanto, os donos do mundo deveriam como apregoam quando há interesse, respeitar a vontade dos povos de cada nação e não impor o seu modo de sentir, pensar e fazer para os países que não se encaixam no modelo Ocidental. O restante do mundo, a cada dia que passa, percebe a falácia dos discursos de países como EUA, Inglaterra e França e não aceita mais as intervenções típicas do período da Guerra Fria. Talvez uma novíssima ordem mundial possa estar se formando. Nesta, o outro não terá o “direito” de dizer o que é melhor para um determinado país, mas, o seu povo, como rege a real democracia, decidirá o seu próprio destino. Oxalá!

Rogério de Souza.
Publicado no "Jornal da Economia" (São Roque) em 04/02/2011 - A2

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