sábado, 3 de julho de 2010

Barack Obama e a era pós-racial

Para compreendermos a importância da vitória de Barack Hussein Obama, precisamos nos recordar de alguns acontecimentos históricos dos Estados Unidos da América.
Primeira colônia americana a conquistar a Independência (1776), os Estados Unidos adotaram, de cara, um sistema político avançado para aquele período: a república presidencialista. No entanto, a escravidão, prática comum em toda a América, persistiu por muitos anos.
No século XIX, a escravidão expandiu-se, principalmente, nos estados do sul, região caracterizada pela agricultura, desenvolvida nos latifúndios (sistema de plantation). Nos estados do norte, prosperou a atividade industrial, adotando a mão-de-obra assalariada.
Com o desenvolvimento acelerado do setor industrial nos Estados do norte, cria-se a necessidade de se ampliar o mercado consumidor. Neste momento, a escravidão do sul passa a ser vista pelo norte como um empecilho ao crescimento do país. Sem acordos entre si, sul e norte travam uma guerra civil denominada Guerra de Secessão (1861-1865).
Vencida pelo norte, durante o conflito, o presidente Abraham Lincoln, o Grande Libertador, determina o fim da escravidão em todo o país. Muitos Estados do sul não aceitam esta determinação e criam organizações secretas - sendo a Ku Klux Klan a mais conhecida - para perseguir, torturar e até mesmo matar os negros. A segregação e o preconceito racial estavam instituídos.
Embora a escravidão tenha sido abolida em 1863, diferentes Estados e a Suprema Corte instituíram e legitimaram diversas leis separatistas que criaram, em algumas regiões, dois mundos: um para o branco e outro para o negro. Com isso, os negros nasciam em hospitais segregados, estudavam em escolas segregadas e eram enterrados em cemitérios separados.
Esse cenário só começou a mudar nos anos cinqüenta quando a Suprema Corte determinou a integração de brancos e negros nas escolas do sul. Em outras palavras, os negros poderiam freqüentar as escolas “dos” brancos. A partir desse momento, a luta dos negros estadunidenses se intensifica por direitos iguais (os chamados direitos civis). Alguns ativistas destacam-se nesta luta, especialmente o reverendo Martin Luther King. Em 1964, o presidente Lyndon Johnson assina o Ato de Direitos Civis que torna ilegal qualquer tipo de segregação nos Estados Unidos.
Apesar da significativa vitória, a luta pelos direitos humanos tem uma baixa, Luther King é assassinado. Era, de certa maneira, a resposta que os segregacionistas transmitiam aos defensores da igualdade jurídica.
Na década de setenta, pressionado pelos diferentes movimentos negros (moderados e radicais) o governo estadunidense cria as Políticas de Ação Afirmativa, política pública que objetiva integrar o afro-americano na sociedade por meio de medidas como cotas nas universidades e no serviço público. Dessa forma, nos últimos anos, os estadunidenses negros conseguiram conquistar importantes espaços na sociedade.
Esses avanços, entretanto, não impediram a discriminação e o preconceito racial de parte da população (especialmente entre os moradores do sul e do interior dos Estados Unidos). Infelizmente, é comum no noticiário daquele país cenas de preconceito racial praticado, principalmente, pelos policiais brancos contra os negros.
Questionam-se as possíveis e futuras realizações do governo Obama (arrogantes e precipitados já estão decretando que não dará certo), no entanto, sua vitória, dentro do quadro apresentado acima, já foi um grande feito podendo, inclusive, estar inaugurando um novo período histórico - denominado por alguns de “era pós-racial”. Período no qual, como sonhou Luther King, o ser humano será valorizado pelo seu caráter e não pela cor da sua pele.

Rogério de Souza. Professor e sociólogo. Doutorando em sociologia pela Unicamp.
Publicado no “Jornal da Economia” da cidade de São Roque em 14 de Novembro de 2008, A2.

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