sábado, 3 de julho de 2010

O deus Google.com

Nas últimas semanas, lemos diversas notícias tratando da polêmica envolvendo o site de busca Google.com e a possível censura do governo chinês. A todo vapor, a peleja incluí táticas típicas do período da Guerra Fria (1949/1991), como o uso de um “Escudo Dourado” que prejudicaria a operação do site no solo chinês.
Embora a matéria seja instigante, afinal, refere-se à restrição da liberdade de expressão, o presente artigo explorará outro aspecto da questão: o fato do Google.com ter se tornado um ser onipresente e onisciente, aproximando-se de um deus.
O dicionário Aurélio explica que deus seria, entre outras coisas, um ser infinito, perfeito, senhor do destino da vida. O Google transformou-se, para alguns indivíduos, em tudo isso e um pouco mais.
Observando o hábito de algumas pessoas, verificamos que, antigamente, quando precisávamos de uma receita de bolo, endereço de estabelecimento comercial ou a definição de conceito recorríamos, respectivamente, a um livro de receitas (provavelmente indicado pela avó, mãe ou mesmo sogra), uma lista telefônica ou a famosa enciclopédia, especialmente da coleção Barsa. Hoje em dia, quando um parente e/ou amigo anuncia uma visita, logo apelamos ao Google. Quando precisamos de um endereço ou esclarecimento de um conceito, procuramos no Google. Ou seja, a internet e, principalmente, o referido site de busca tornaram a vida do indivíduo moderno mais fácil e prática.
No entanto, algumas considerações precisam ser feitas: primeiro, a internet é, hoje, terra de ninguém. Qualquer indivíduo pode postar uma informação na rede. Os espaços como Blog e as redes sociais (Orkut, MSN, Twiter, Facebook, etc) exemplificam bem isso. Volta e meia pegamos informações equivocadas ou mesmo errôneas nesses sites de relacionamento. Mesmo em enciclopédias eletrônicas mundialmente conhecidas como a Wikipédia encontramos significativos problemas de definição e informação.
Outro problema gerado pelo mau uso de sites de busca é do plágio. Exemplo: quando o professor pede para os estudantes desenvolverem um trabalho, logo é surpreendido com textos fantásticos, bem construídos e com informações que o próprio docente não tinha. No entanto, sabemos que o aluno de ensino médio ou de anos iniciais do ensino superior, normalmente não possuí linguagem tão sofisticada.
Assim sendo, precisamos utilizar um instrumento tão importante como o Google.com da mesma forma que utilizávamos os dicionários e as tradicionais enciclopédias, ou seja, como ferramenta de consulta. Caso copiemos algo, devemos citar a fonte e, mais importante, necessitamos verificar a veracidade de certas informações, pois, a folha de papel ou a página eletrônica não é capaz de reclamar, espernear, nem mesmo fazer “cara” feia, porém, a mente humana, caracterizada pela sua capacidade crítica, não pode aceitar uma informação sem desconfiar. Portanto, devemos apoiar a liberdade de atuação do Google, mas, ao mesmo tempo, desconfiar desse ser que para alguns é um deus.

Rogério de Souza. professor e sociólogo. Doutorando em sociologia pela Unicamp.
Publicado no “Jornal da Economia” da cidade de São Roque em 09 de Abril de 2010, p. A2.

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