sábado, 3 de julho de 2010

O didatismo do caso Arruda

“A corrupção é comum na esfera pública brasileira”. Esse tipo de argumento, já há algum tempo, faz parte do imaginário nacional e é confirmado pela publicação de estudos que caracterizam o Brasil como um país corrupto, sendo esse, segundo os especialistas, um dos principais entraves para o nosso real desenvolvimento.
Apesar disso, poucos casos mostraram, de forma tão clara, como funciona a corrupção no Brasil quanto o chamado “Mensalão do DEM” envolvendo o governador do Distrito Federal (DF) José Roberto Arruda.
Arruda está sendo acusado de participação em esquema de pagamento de propina a parlamentares aliados. Uma série de imagens gravadas e veiculadas na TV mostra o governador recebendo maços de dinheiro. As filmagens foram feitas por Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do DF.
Os recursos mostrados nas filmagens viriam de empresas que prestam serviços ao governo do Distrito Federal. Essas empresas superfaturariam os serviços prestados e, em troca da contratação por meio de licitação, as mesmas destinariam parte do valor para o grupo do governador Arruda. Com esse dinheiro em mãos, o governador subornaria os deputados distritais. Ou seja, as empresas ligadas à Arruda enriqueceriam, pois venceriam as licitações; o governador enriqueceria, pois teria dinheiro para custear gastos extras e não declarados; e os deputados enriqueceriam, pois levariam suas “gorjetas” para aprovar projetos do poder executivo. Tudo isso, é claro, com o dinheiro do contribuinte que, no frigir dos ovos, empobrece.
Dessa forma, a ousadia e a trapalhada do governador Arruda serviram para revelar, de forma detalhada, entre outras coisas, uma prática que, muitas vezes, ocorre em nossos municípios, ou seja, debaixo de nosso nariz. Portanto, se o brasileiro já tinha ciência da existência de tais ações ilegais em tudo o que é esfera pública, precisa se utilizar dessa “aula” de corrupção para fiscalizar não o quintal do outro, mas o seu.

Obs.: Para aqueles que bradam em alto e bom som que os políticos brasileiros nunca são punidos, José Roberto Arruda está preso na superintendência da Polícia Federal desde o dia 11 de fevereiro por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acusado de tentar subornar uma testemunha do caso. O vice-governador, Paulo Octávio, que assumiu o cargo interinamente, renunciou no dia 23/02. Com a renúncia, o cargo de governador interino do Distrito Federal foi assumido pelo presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima. A mudança é silenciosa e, talvez por isso, não saibamos identificá-la.

Rogério de Souza. Professor e sociólogo. Doutorando em sociologia pela Unicamp.
Publicado no jornal “O Democrata” da cidade de São Roque em 12 de Março de 2010, p. C9.

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